Textos para o catálogo da exposição de gravura na Galeria Ara · Lisboa
A LUZ DE VER A LUZ
Taz o nome das terras de Rembrandt. Raízes maternas. Londres a viu nascer. Em Madrid estudou e se fixou. Mas é em Lisboa, a partir da casa paterna, que Saskia busca as raízes outras, as do ser.
Filha do litoral – de dois vizinhos mares – é, afinal, na costa do Atlântico (de Lisboa ao Guincho, do Guincho à Roca), que a luz poisa como um grifo nas escarpas veladas de sal ou polidas pela fúria dos ventos. Ave insaciável. Oceano sábio conhecedor dos sedimentos e das ígneas rochas, de areias ou de algas. Das cores basálticas ou xistosas. E dos brilhos sensíveis, mutáveis. Das ínfimas transições registadas na escuta sonhada entre ondas.
Dessa viagem dá-nos Saskia Moro a subtilíssima transformação – a diagénese. Segredos de nichos e de grãos. Jogo de neblinas e de sol. A luz de ver a luz. No corpo da gravura duplamente original.
Carlos Neves Carvalho
Lisboa, 2 de janeiro de 1997